Coração peneira

Certos momentos na vida exigem que a gente pare um pouco.

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A queda de Ícaro (1943) por Henri Matisse
A queda de Ícaro (1943) por Henri Matisse

Certos momentos na vida exigem que a gente pare um pouco. Não por falta de fôlego, mas por falta de espaço no coração — vamos acumulando dores, angústias, e a resiliência humana tem lá seus limites. Incrível como a alegria é leve, é água — podemos nadar em alegrias e seguir em frente sem marcas. Não é que esqueçamos as benesses desta vida, os momentos de boa fortuna. Sucede que eles não pesam, e sim nos tornam mais leves.

Ao contrário das alegrias, as mágoas são pedras — ah, como elas ocupam espaço, nos cansam e ferem, aparecem nas horas mais inesperadas, emergindo do lodo das más lembranças em momentos cruciais, fazendo com que tropecemos nos resíduos do passado! O melhor, então, de tempos em tempos, é descer à mina das nossas mágoas e fazer a picareta do perdão funcionar um pouco. O que já não serve, que vá embora! Porque às vezes nos apegamos às mágoas e   nos definimos por elas — tem gente por aí que não passa do somatório das suas amarguras.

Desta vida, eu me esforçarei para levar apenas as felicidades. Os pesares, essas pedras, vou tentando eliminar, um a um, do meu coração meio exaurido. Alguns são mais resistentes, encrustados nas paredes da minha história. Mas cada um que arranco deixa passar um raio de sol. Melhor um honesto coração peneira do que um coração escuro, tortuoso e triste.

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