Nos fins de tarde, me largava no balanço da árvore para não ouvir nada além do vento, não pensar em nada além do tempo que se arrastava preguiçoso, e meus olhos se demoravam no galho que me sustentava. Quantas vezes me perguntei se me sustentaria de fato ou se não acabaria me largando no meio de uma balançada e sairia voando
para nunca mais voltar.
Pobre galho, aguentando bravamente o peso dos meus nadas balançando para lá e para cá! Não me admiraria rompesse de supetão.
Mas ele nunca rompeu.
Havia um rangido, verdade, mas o som me trazia serenidade. Não poderia ser protesto. Me soava uma compreensão:
“Eu…
Entendo.”
“É…
Verdade.”
“Me conte…
seus…
segredos.”
Eu ouvia os rangidos no galho e, quanto mais alto chegava com o balanço, mais meus pés alcançavam as nuvens. Quanto mais perto das nuvens, mais longe do mundo, e eu já podia contar meus segredos, enfim. E te pedir que me contasse também os seus. Não seria justo assim?
Conte seus segredos. Não confia em mim? Me conte o que guarda mudo, quem é dono do teu sim?
Diga. Fale mais sobre você. Seu silêncio é displicente ou ele tem um porquê?
Me conte seus segredos. Aqueles mal guardados. Sei que há os intocáveis, esses vou respeitar. Algumas gavetas são só suas.
Outras não posso
te ajudar a arrumar?
Trocar segredos é fazer-se cúmplice, comparsa, parceiro. Contei uns meus ao galho bravo e ele me deu também uns seus, como se tivesse me contado primeiro.
Saía do balanço em um salto
nada mortal,
me despedindo do meu ouvinte.
Lamentava que não saísse voando
ao largar as cordas
para voltar
no dia seguinte.
De onde vem essa inspiração?essa beleza de texto,de onde vem?essa lindeza de simplicidade,de saber dizer as coisas,passar para o papel e para os nossos coraçoes essas emoções que nos remete a infancia,como sempre uma maravilha,parabens Clarice.