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Desafio A Casa de Hades – 5

8 / outubro / 2013

Atenção para o quinto desafio. *

” —  A placenta deve ter se descolado!

Alguma coisa mais afiada do que faca me rasgou — as palavras, fazendo sentido apesar das outras torturas. Placenta descolada — eu sabia o que significava. Significava que meu bebê estava morrendo dentro de mim.

— Tirem ele! — gritei para Jason. Por que ele não ainda não tinha feito isso? — Ele não consegue respirar! Tirem agora!

— A morfina…

Ele queria esperar, me dar analgésicos, enquanto nosso filho estava morrendo?!

— Não! Agora… — Eu sufoquei, incapaz de terminar a frase.

Manchas pretas bloqueavam a luz da sala quando um ponto gélido de uma nova dor apunhalou meu estômago como gelo. Parecia errado — lutei, automaticamente, para proteger meu útero, meu bebê, meu pequeno Jason, Leo, mas eu estava fraca. Meus pulmões doíam, o oxigênio se esgotava.

A dor cedeu de novo, embora agora eu me agarrasse a ela. Meu bebê, meu bebê, morrendo…

Quanto tempo havia se passado? Segundos ou minutos? A dor se fora.

Torpor. Eu não conseguia sentir. Ainda não conseguia ver também, mas podia ouvir. Havia ar em meus pulmões novamente, bolhas ásperas descendo e subindo por minha garganta, arranhando.

— Agora fique comigo, Piper! Está me ouvindo? Fique! Você não vai me deixar. Mantenha seu coração batendo!

Leo? Leo, ainda ali, ainda tentando me salvar.

É claro, eu queria dizer a ele. É claro que eu ia manter meu coração batendo.

Eu não tinha prometido isso aos dois?

Tentei sentir meu coração, encontrá-lo, mas estava completamente perdida dentro de meu próprio corpo. Não conseguia sentir as coisas que deveria, e nada parecia estar no lugar certo. Pisquei e encontrei meus olhos. Eu podia ver a luz. Não era o que eu procurava, mas era melhor do que nada.

Enquanto meus olhos lutavam para entrar em foco, Jason suspirou:

— Trisdite.

Trisdite?

Não era o menino pálido e perfeito de minha imaginação? Senti um momento de choque. E, depois, uma onda de ternura.

Trisdite.

Forcei meus lábios a se moverem, forcei as bolhas de ar a se transformarem em sussurros em minha língua. Obriguei minhas mãos entorpecidas a reagir.

— Me deixe… Me dê ela aqui.

A luz dançou, refletindo-se nas mãos de cristal de Jason. As centelhas eram tingidas de vermelho, com o sangue que cobria sua pele. E havia mais vermelho em suas mãos. Alguma coisa pequena se debatendo, gotejando sangue. Ele colocou o corpo quente em meus braços fracos, quase como se eu o estivesse segurando. A pele molhada era quente — tão quente quanto a de Leo.

Meus olhos focalizaram; de repente tudo ficou absolutamente claro.

Trisdite não chorou, mas respirava num arfar rápido e sobressaltado.

Seus olhos estavam abertos, a expressão tão assustada que era quase engraçada.

A cabecinha perfeitamente redonda era coberta por uma grossa camada de cachos emaranhados e sangrentos. Suas íris eram de um tom chocolate familiar — mas impressionante. Sob o sangue, a pele parecia clara, de um marfim cremoso. Tudo, exceto as bochechas, que ardiam de cor.

Seu rostinho mínimo era tão perfeito que me deixou atordoada. Ela era ainda mais bonita do que o pai. Inacreditável. Impossível.

— Trisdite — sussurrei. — Tão… linda.

O rosto inacreditável de repente sorriu — um sorriso largo e consciente.

Por trás dos lábios cor-de-rosa estavam duas fileiras completas de dentes de leite branquinhos.

Ela encostou a cabeça em meu peito, enroscando-se no calor. Sua pele era quente e macia, mas não cedia como a minha.

Então houve dor de novo — um golpe único e quente. Eu arfei.

E ela se foi. Meu bebê com carinha de anjo não estava em lugar nenhum.

Eu não podia vê-la nem senti-la.

Não!, eu queria gritar. Devolva minha filha!

Mas a fraqueza era demais. Por um momento meus braços pareceram mangueiras de borracha vazias, depois não pareciam mais nada. Eu não os sentia. Não conseguia me sentir.

A escuridão cobriu meus olhos, mais densa do que antes. Como uma venda grossa, firme e rápida. Cobrindo não só meus olhos, mas todo o meu eu com um peso esmagador. Era exaustivo lutar contra aquilo. Eu sabia que seria muito mais fácil ceder. Deixar que a escuridão me empurrasse para baixo, cada vez mais fundo, até um lugar em que não havia dor, cansaço, preocupação nem medo.

Se fosse apenas por mim, eu não teria sido capaz de lutar por muito tempo.

Eu era apenas humana, não tinha mais que a força humana. Eu vinha tentando conviver com o sobrenatural por tempo demais, como dissera Leo.

Mas aquilo não se referia apenas a mim.

Se naquele instante eu escolhesse o caminho fácil, se deixasse a escuridão do nada me apagar, eu os faria sofrer.”

*Aviso das Parcas: esta paródia é uma criação própria da Editora Intrínseca, não comercializável e que não poderá ser utilizada após o concurso cultural “Desafio A Casa de Hades”.

Confira o regulamento: http://www.intrinseca.com.br/blogdasseries/2013/10/desafio-a-casa-de-hades/

Comentários

2 Respostas para “Desafio A Casa de Hades – 5

  1. Caramba! Ficou muito bom!!! Adorei o concurso e essa combinação de Amanhece com Piper, Jason e Leo ficou incrível!!!

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