Da boa fortuna

Por Leticia Wierzchowski

17 / abril / 2014

coluna 7_da boa fortuna

Acredito que, para se chegar a algum lugar nesta vida, é preciso esforço, talento e vontade. Já diz o ditado: “Pra quem não sabe aonde vai, nenhum vento é favorável.” Pura verdade. Objetivos são importantes, e depois de elegê-los é preciso, sem dúvida, trabalhar por eles. A proa do barco deve estar voltada para o seu destino. Depois é navegar… Porém, ventos favoráveis para barcos com destino escolhido sugerem também uma variante incontrolável: a força da natureza. E se nenhum vento soprar e seu barco ficar à deriva num mar sem-fim? Por mais que a gente planeje, se esforce e tenha talento de sobra para lutar pelos sonhos, o impalpável sempre estará lá. Há fatalmente uma variante — um atalho para o sucesso e outro para o fracasso — e nem sempre podemos escolher qual desses caminhos seguir. Aí vem a sorte, ou o azar. Sorte quer dizer “destino, fado, dita, fortuna, acaso, ventura, risco”. A sorte pesa a balança para o lado certo e pode acelerar os ponteiros da vida — a falta de sorte pode emperrar os mecanismos do relógio.

Faz algum tempo, presenciei a cerimônia de Simchat Bat da minha afilhada, Ana. O Simchat Bat acontece após o nascimento de uma menina de origem judaica, e é nessa cerimônia (linda, aliás) que o rabino abençoa a criança e ela recebe seu nome hebraico. Lembro que o rabino disse muitas coisas e espalhou bênçãos para Ana e para os seus; depois, ao final, como último presente, desejou que ela tivesse sorte na vida. Achei um ensejo perfeito para uma criança com a vida toda pela frente.

Uma amiga contou-me uma história que era mais ou menos assim: um grande empresário precisava encontrar alguém para trabalhar com ele. Choveram currículos de interessados. A secretária do homem entrou na sala e, vendo a mesa atravancada de pastas, ofereceu-se para ajudá-lo na seleção do candidato. Ao que o empresário retrucou: “Apenas leve essas quatro pilhas pro lixo e deixe uns vinte currículos aqui, pois vou analisá-los.” A secretária estranhou e disse: “Mas nesses currículos que o senhor mandou pro lixo podem estar os candidatos mais bem-preparados para ocupar a vaga em questão!” Ao que o chefe retrucou: “É verdade. Mas eu prefiro trabalhar com gente que tenha sorte na vida.” E mais não disse.

Leticia Wierzchowski é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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Comentários

3 Respostas para “Da boa fortuna

  1. Um nacional! Estou começando a escrever agora, estou muito feliz de ver o cenário literário nacional crescendo assim, com certeza comprarei o livro.

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