Meus amigos virtuais

Por Leticia Wierzchowski

6 / junho / 2014

Coluna 12_Meus amigos virtuais

 

As redes sociais têm fama de apartarem as pessoas do convívio humano, como se uma curtida ou um like pudessem substituir um papo olho no olho, ou um café para colocar as novidades em dia – e eu, frequentemente, dou as minhas lambadas no Facebook, essa espécie de Caras, onde alguns postam seus almoços e jantares, seus pensamentos mais ordinários e algumas fotos que deveriam ir para o fundo da lixeira mais abominável, como se o mundo estivesse ardentemente interessado num prato de bife à milanesa devorado dois dias atrás numa viagem de final de semana.

Eu já tive momentos deprimentes no Facebook, e inclusive deleto o sujeito que ultrapassa certas fronteiras bastante razoáveis que delimitei para a minha sanidade –  mas também já tive várias alegrias. Ganhei muitos leitores, e fiz deste espaço um afável lugar de troca, um caminho entre a solidão da minha mesa de trabalho e o meu misterioso leitor desconhecido, aquele que, meses ou anos depois que eu coloquei o ponto final numa história, senta-se em alguma sala de alguma casa em algum lugar, e inicia a viagem solitária da leitura de um romance escrito por mim. Antes, todas as dúvidas e curiosidades dessa aventura de ler seguiam sendo apenas isso – dúvidas e curiosidades. Hoje, muitos leitores surgem na minha página, e trocamos ideias, simpatias, pensamentos e bibliografias.

Pois, há dois dias, fiz aniversário. Como é de praxe, mais do que telefonemas, recebi mensagens e postagens no Facebook, e acho que as manifestações passaram de mil – mil!!! – e foram tantas que não consegui contar ou agradecer a todos que se fizeram presentes. Mas li cada ensejo, cada “parabéns”, cada bom pensamento que centenas de pessoas, a maioria das quais eu nem conheço pessoalmente – e intuo que se dão ao trabalho de pensar em mim e na minha felicidade, porque algum dia, em alguma sala de alguma casa em algum lugar, sorriram de alguma coisa que eu já escrevi nesta minha vidinha comum, agraciada com o único talento de ter criatividade, persistência e certo manejo com as palavras.

Olha, foi uma experiência e tanto – e todas aquelas mensagens, entrando ao longo do dia, como incontáveis sussurros nos meus ouvidos, realmente me emocionaram. Foram como preces, como andorinhas numa tarde de verão cortando o céu virtualmente azul do meu dia quatro de junho.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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Comentários

Uma resposta para “Meus amigos virtuais

  1. Leticia, saiba: você merece cada um desses gestos de afeto. Parabéns, mais uma vez.

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