Para onde vai o tempo

Por Leticia Wierzchowski

27 / junho / 2014

coluna 15_para onde vai o tempo

Meu filho mais velho completou treze anos. Faz já algum tempo que ele cruzou a fronteira da infância, penetrando num território mais nebuloso, cheio de mistério, esse lugar de ansiedades e de descobertas que nos leva à idade adulta. Eu, que ainda guardo as lembranças da minha própria caminhada pela selva da adolescência, torço para que os hormônios nunca suplantem a doçura e a serenidade que este meu filho tem, desde sempre, como um farol que me guia ─ com frequência, conversando com ele sobre a vida, creio que a adolescente sou eu.

Coisas incríveis e secretas acontecem na cabeça do meu menino, mas a explosão do seu corpo é o que mais me impressiona ─ do garotinho que corria para o meu colo e que eu podia segurar entre os meus braços até bem pouco tempo atrás, quase nada restou. Do dia para a noite, um corpo de adulto desabrochou, um corpo rijo, forte, de perfeitas e sinuosas curvas ─ às vezes, vou ajeitar as suas cobertas no meio da noite (como eu fazia quando ainda era criança) e um misto de espanto e de orgulho me toma de surpresa ao encontrar, nas sombras da madrugada, aquele homem crescido deitado na cama que era do meu gurizinho.

Enquanto isso, o tempo atua sobre mim também, não com a mesma graça ou gentileza ─ mas como reclamar, como questionar o ciclo da vida quando, a olhos vistos, a roda das benesses vai girando, girando, e se me fez usar óculos de leitura pela primeira vez, transformou o meu filhinho nesse projeto de homem, já com sonhos de futuro, com fibra e com determinação (isso sem falar no seu sorriso lindo, no modo como ele inclina de lado o rosto ao sorrir pra gente).  Às vezes, só de olhá-lo ocupado com seus afazeres ou lendo um livro, eu sinto meus olhos úmidos, como reclamar do tempo? O tempo pode ser cruel, mas também é inteligente: a força que habita em mim, o viço que outrora mostrei, nasce renovado no meu menino-quase-homem, e acompanhar essa transformação, mais do que um aprendizado, é um presente.

LETICIA WIERZCHOWSKI é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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Comentários

2 Respostas para “Para onde vai o tempo

  1. Guenta firme, Letícia.
    O pouco que se perceba vêm os netos.
    🙂

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