testeDe tanto odiar

Coluna Leticia

Fonte: New Yorker

As pessoas odeiam demais. Eu sei, estamos vivendo tempos difíceis. A Petrobras está indo para o beleléu, nossas contas mensais estão indo para o céu…

Ler as notícias, hoje em dia, dá ódio na gente. Fomos rebaixados, sequestrados, vulgarizados, esquecidos, enganados, intimados a pagar a conta, financiados por ditadores e roubados por políticos. Mas, por favor, precisamos nos controlar.

Precisamos fazer alguma coisa produtiva com esse ódio todo pingando na nossa vida cotidiana feito infiltração, nem que seja um passaporte para uma viagem sem volta. Quem sabe lá na quietude das ilhas Maurício o ódio fosse diminuindo, diminuindo… Sei lá. Não sei se há corrupção nas ilhas Maurício, desvios bilionários, água potável, transporte público decente, atendimento médico e bons salários. Só sei que não quero morar nas ilhas Maurício. Por outro lado, eu moraria feliz no Uruguai, a terra do meu amigo Mauricio Rosencof — uma pessoa em cujo coração só existe luz e poesia, embora o destino e a história política tenham lhe subtraído doze anos de existência da forma mais cruel que se possa imaginar.

Você aí de dedo em riste, falando alto, xingando o cara do carro em frente, vociferando contra o verde ou o vermelho, em vez de odiar, pesquise a vida do meu amigo Mauricio Rosencof — não vou contar aqui, não. Leia os livros dele — no congestionamento, no ônibus lotado e quente, na sala de espera do médico, mas leia. A gente aprende mais com o Mauricio Rosencof do que lendo as manchetes políticas e econômicas deste nosso país — e odeia menos.

De tanto odiar, estamos ficando vulgares, tristes, cinzentos, melancólicos e com pressão alta. Estamos nos transformando em pessoas intolerantes: dedos em riste, mãos nas buzinas, carros nas vagas para deficientes. Estamos odiando o cidadão ao lado, o vizinho de cima, a moça grávida, o colega de trabalho, o senhor na faixa de pedestres. Odiar tanto assim faz mal à saúde e não nos aproxima nem um pouco de um futuro melhor.

testeLivros que não conseguimos parar de ler

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Existem alguns livros que nos fascinam tanto que é impossível parar de ler até chegarmos à última página. Seja pelo suspense que despertam, pela vontade de saber o que vai acontecer com os personagens ou por querer desvendar mistérios, algumas obras nos encantam e nos deixam vidrados de uma maneira única.

Selecionamos alguns títulos publicados pela Intrínseca que podem ser lidos de uma vez só:

Para quem curte terror psicológico:

Caixa de pássaros — Romance de estreia de Josh Malerman, Caixa de Pássaros é um thriller tenso e aterrorizante que explora a essência do medo. Cinco anos depois de um surto sem explicação ter começado, restaram poucos sobreviventes, entre eles Malorie e dois filhos pequenos. Ninguém sabe o que causa, mas basta uma olhadinha para fora para desencadear um impulso violento e incontrolável que acabará em suicídio. Malorie sonha em fugir para um local onde a família possa ficar em segurança, mas terá que enfrentar o medo de encarar o mundo fora da casa em que está trancada.

Para quem curte suspense:

Garota exemplarGillian Flynn cria um retrato cruel sobre como as mentiras podem construir um casamento. E também destruí-lo. O livro se alterna entre duas perspectivas opostas e conflitantes, estabelecendo uma atmosfera capaz de fazer o leitor mudar de opinião a cada capítulo. Na manhã do quinto aniversário de casamento, Amy desaparece da nova casa, às margens do rio Mississippi. Tudo indica se tratar de um sequestro, e Nick imediatamente chama a polícia, mas logo as suspeitas recaem sobre ele. Exibindo uma estranha calma e contando uma história bem diferente da relatada por Amy em seu diário, ele parece cada dia mais culpado, embora continue a alegar inocência. À medida que as revelações sobre o caso se desenrolam, porém, fica claro que a verdade não é o forte do casal.

Para quem curte ficção científica:

Aniquilação — No primeiro livro da trilogia Comando Sul, somos apresentados a um grupo de quatro mulheres enviado para a Área X, um lugar incompreensível e isolado do restante do mundo há décadas, onde a natureza tomou para si os últimos vestígios da presença humana. Elas fazem parte da décima segunda expedição, cujos objetivos são explorar o terreno desconhecido, tomar nota de todas as mudanças ambientais, monitorar as relações entre elas próprias e, acima de tudo, não serem contaminadas pela Área X.

Para quem gosta de histórias de amor e de desvendar a identidade dos personagens:

Simon vs. a agenda Homo Sapiens — Simon troca e-mails anônimos com Blue. Eles são dois garotos gays que só confiam um no outro para se abrir e discutir sobre suas identidades, desejos e medos mais íntimos. Durante a troca de mensagens os dois acabam se apaixonando. O livro discute também o que deve ser o padrão. Por que a heterossexualidade é o padrão?  Por que ser branco é o padrão? Simon discute todos esses estereótipos de um jeito muito fofo.

Para quem ama mistério:

S. — Projeto de J.J. Abrams, criador de Lost, S. está longe de ser um livro convencional. Com ao menos quatro histórias que se desdobram ao mesmo tempo, S. é um livro-jogo com várias possibilidades de leitura, que instiga o leitor a decifrar os mistérios, códigos e pistas contidos em toda a obra. Seja nas notas, nas margens ou nos outros itens da caixa, há sempre algo além do que se vê aguardando para ser descoberto.

Para quem gosta de livros com reviravoltas:

A verdade sobre o caso Harry Quebert — Marcus Goldman, um jovem escritor americano que está sofrendo com bloqueio criativo, procura o renomado romancista e seu ex-professor de faculdade Harry Quebert. Surpreendido por um mistério que envolve seu mentor na morte de uma jovem de quinze anos, Marcus precisa correr contra o tempo para tentar inocentar o amigo, descobrir quem matou Nola Kellergan e escrever um livro bem-sucedido.

Para quem gosta de histórias que envolvam crimes:

Todos envolvidos — A obra é inspirada na semana de protestos, assaltos e saques ocorrida em 1992, em Los Angeles, depois do julgamento que absolveu três policiais acusados de agir com violência contra um taxista negro. O livro narra como gangues latinas, imigrantes e traficantes se aproveitaram da situação para acertarem as contas com seus rivais.

Para quem curte thriller com espionagem e conspiração:

O nadador — Livro de estreia de Joakim Zander, O nadador é um thriller de suspense que percorre diversos pontos do planeta. O autor, que já viveu em diversos lugares do mundo como representante do Parlamento Europeu, utiliza sua experiência pessoal para tornar ainda mais rica a ambientação dos diversos países retratados no livro.

Para quem gosta de histórias com segredos:

Temporada de acidentes — Todo mês de outubro, inexplicavelmente, Cara e sua família se tornam vulneráveis a acidentes. Algumas vezes, são apenas cortes e arranhões — em outras, acontecem coisas horríveis. A temporada de acidentes faz parte da vida de Cara desde que ela se entende por gente. E esta promete ser uma das piores. No meio de tudo, ainda há segredos de família e verdades dolorosas, que Cara está prestes a descobrir. Neste outubro, ela vai se apaixonar perdidamente e mergulhar fundo na origem sombria da temporada de acidentes.

Para quem tem interesse em histórias com conflitos entre culturas:

O árabe do futuro Riad Sattouf, um consagrado quadrinista filho de mãe francesa e de pai sírio, conta o choque cultural que viveu quando, ainda criança, foi para a Síria e a Líbia. E também do retorno da família à França. Depois de viver em lugares tão diferentes, Riad se tornou um completo estrangeiro, com uma visão crítica, afiada e muito bem-humorada sobre o mundo. Um livro de memórias contado em quadrinhos.

testeMas esse livro é sobre o quê, mesmo?

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Toda vez que escrevo um livro, a pergunta que mais me ocorre ao longo do processo, muitas vezes até quase o fim, é: “Mas esse livro é sobre o quê, mesmo?” Pode parecer absurdo, e talvez seja, considerando que o simples fato de estar envolvido pela história já deveria pressupor uma resposta “na lata”, como costuma dizer minha filha mais velha. Mas é provável que o leitor se faça a mesma pergunta, e acho importante eu ter plena ciência do que se trata aquilo. Dizem, inclusive, que, se o escritor conseguir responder em apenas uma palavra, tudo estará a bom caminho de ser perfeito.

Surpreendente! é sobre…?”. Minha resposta, na lata: amizade. Poderia ser cinema, mas descobri, ao longo do tempo, que cinema era apenas o pano de fundo. Se fosse somente sobre isso, seria mais eficiente tentar um tratado cheio de dados a respeito de algum aspecto da sétima arte — e adianto aqui minha incompetência para tal.

Em Surpreendente!, eu estava em crise com minhas amizades por culpa de uma ferramenta dos infernos criada supostamente para aproximar as pessoas, mas que tem sido pródiga em afastá-las: as redes sociais. Tentei, então, contar uma história de amizade que fosse além das redes. A amizade da estrada, do projeto conjunto, do sonho sonhado a oito mãos; do curtir com uma risada, não com um clique; do compartilhar a emoção com uma palavra, não com outro clique. Por fim, do comentário olho no olho, não escondido por detrás de uma tela de computador.

A resposta à questão sobre do que trata a nova história, entretanto, não terá a força de uma única palavra, mas de duas: felicidade e tristeza. Como diria Vinicius de Moraes, em seu belo “Samba da Benção”: “É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe. A tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste, não.”

Nos dias atuais, ando tendo debates profundos — comigo mesmo e entre cada nascer do sol — sobre esta dicotomia felicidade-tristeza. Elas podem ser medidas? Quanto de razão é capaz de influir na certeza de eu dizer que sou feliz ou triste? O que pode me trazer momentos genuínos de felicidade? E de tristeza? São perguntas difíceis.

Acho que ontem vivi momentos felizes e hoje acordei de alma leve: recebi a notícia de um amigo que saiu do hospital depois de dias de luta; fui ao show do Iron Maiden, duas horas cravadas de energia e congregação entre milhares de pessoas que estavam ali só para celebrar a emoção de assistir ao vivo a alguém fazendo aquilo que fez parte de suas vidas; e, ao entrar em casa de madrugada, encontrei minha filha pequena dormindo de boca aberta, vestida com uma de minhas camisas.

Se, em meio a tantos bombardeios de tristeza que têm atingido os territórios que frequento, eu tiver a sorte de ser agraciado com pílulas de felicidade assim, não precisarei me fazer mais tantas vezes aquela pergunta do título. Se Deus quiser, tampouco os leitores.

testeManual prático de formação de super-heróis

Por Jeff Oliveira*

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Quando a Intrínseca me convidou para ler Simon vs. a agenda Homo Sapiens, não imaginei que as sagas psicológicas dos personagens remeteriam a tantas cicatrizes da minha adolescência. Além de divertido, o livro gera uma bomba de identificação em nossas mentes porque expõe questões essenciais com muita delicadeza e respeito.

Assim como Simon e seus amigos, agora convido todos a embarcarem nessa viagem rumo às intimidades do meu coração aos dezessete anos:

 

[Lembrança #1]

Fui um adolescente dos anos 2000. Isso basicamente significava internet lenta, uma coisa parecida com WhatsApp que chamávamos de ICQ, emocore por toda parte e confusão sobre sexualidade.

Meu círculo de amigos se resumia ao grupo de meninas que fazia trabalhos de sociologia comigo e alguns meninos que conheci no Chat UOL 18-20. Obviamente ninguém tinha nem perto de dezoito anos naquele site, mas entrar na sala 16-18 soava como suicídio social na época.

Jeff_Weasley_18 entra na sala.

Conheci o “ImNotOkay_RJ.20” — que, em errata ao nickname, tinha dezessete e se chamava Raphael — num domingo à tarde. Foram bons papos listando motivos para o Frodo ser o personagem mais tapado da Sociedade do Anel, conspirando se o The Used viria ao Brasil naquele ano e reclamando de fórmulas de física que não conseguíamos decorar. Era estranho termos tanta coisa em comum. Em geral os caras do meu colégio achavam tudo que eu fazia “bichice”.

Jeff diz:
Você beijaria o Seth?

Rapha está digitando…
Rapha está digitando…
Rapha está digitando…

 

Rapha diz:
Óbvio.
Ele é foda!
Todo mundo beijaria.
Tu não?

Comecei a ficar obcecado em conversar com o Rapha e, pior, com vontade de ser amigo dele na vida real. Sugeri um encontro para trocarmos cards de Pokémon.

Ele topou.

“No shopping então?”
“Demorô.”
“Vou estar com o uniforme do colégio.”
“Eu também.”

A última coisa que eu queria no mundo era que ele percebesse algum interesse além de amizade. Ele era meu único amigo homem. Não queria arriscar pedindo uma foto. Pedir a foto de um cara na internet era gay demais. Mais gay do que se assumir apaixonado por um personagem masculino de The O.C.

Cheguei suado, coração acelerado. Preferi acreditar que o tambor que rufava no meu peito era causado pelo passo apressado que mantive do portão da escola até ali.

Minutos depois chegou outro menino de uniforme, franja e mochila jeans com costuras de bandas. Nossas diferenças físicas, quase absolutas, seriam compensadas pelo quanto tínhamos em comum intelectualmente. Tinha que ser ele! Meu coração deu uma cambalhota.

Olhei algumas vezes na direção do suposto Rapha, mas não foi recíproco. Era o máximo que podia ser feito. 3G, só em episódios dos Jetsons, SMS era coisa de adulto — lembrava e-mail, que incontestavelmente era coisa de adulto — e ligar nunca foi uma opção, porque, na minha cabeça, pedir o telefone de um cara na internet também transpareceria mais homossexualidade do que desejar desesperadamente beijar o Adam Brody.

O menino foi embora. Não devia ser ele, pensei.
Duas horas esperando e nada.

“Oi.
E aí?
Aconteceu alguma coisa?”

Rapha não respondeu mais no ICQ.

 

[Lembrança #2]

Um dia simplesmente acordei e, plim, aceitei que gostava de meninos.

Não tinha nenhum problema nisso, ué! Foi como se parte do meu cérebro tivesse sido desbloqueada e feito as pazes com a parte que sempre soube que eu era gay.

Não importava mais que os outros meninos me chamassem de “viadinho” por estar lendo Harry Potter e o Cálice de Fogo enquanto eles usavam o tempo vago para jogar futebol. Eu era viado e pequeno. “Viadinho” fazia todo sentido, na verdade. Por fora eu só ignorava os “xingamentos”, mas, por dentro, ria da ironia. Era libertador!

Contei animado para uma prima e recebi um soco no estômago:
“Você precisa contar para a tia.”
Que injusto! Minha irmã nunca precisou de permissão para beijar caras.
Fiquei revoltado e fiz um piercing.

Se fosse para ser repreendido por algo, melhor que fosse algo pelo qual eu me sentisse culpado.

 

[Lembrança #3]

Não é possível que seja ele!

Meu cérebro estava descontrolado tentando achar uma resposta para o que o menino que ficou vinte minutos na porta do shopping me ignorando estava fazendo do outro lado da pista.

Eu só dei azar e isso é uma péssima coincidência.

Outro cara chegou perto dele. Os dois são bonitos. Bem mais bonitos que eu. Cabelos penteados com gel, bochechas rosadas, bocas pequenas. Na verdade, eles são bem parecidos e exatamente o contrário de mim.

Bebi mais para não cair naquela paranoia.
Adoro Britney.
Estava tocando “Overprotected”.
Acabou o beijo.
O outro cara saiu.

Foda-se tudo…

“Raphael?”
“Aham. Por quê?”
“Ih, foi mal. Pensei que fosse um amigo. Vou continuar procurando.”

Cheguei em casa chorando muito, nem sabia exatamente por quê.

Nota importante (sem spoiler, juro): Simon passa exatamente pela mesma situação quando decide sair do armário. Em um mundo ideal ninguém deveria precisar proclamar sua sexualidade aos quatro ventos. Heterossexuais, por exemplo, não saem de armários. Eles simplesmente beijam ou namoram alguém e pronto. Acho que quando falamos em igualdade estamos pedindo isto: para não sermos recebidos com um “MENTIRA QUE VOCÊ É GAY?” em Caps Lock.

***

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Simon vs. a agenda Homo Sapiens me fez revisitar nitidamente essas ocasiões da adolescência e lembrar a matriosca de sentimentos que é ser um menino gay e negro.

Assim que decidimos desbravar nossa sexualidade, libertamos novas questões ainda mais complicadas, como a autoestima debilitada pelos padrões estéticos e a desconstrução do pensamento eurocêntrico de “cara ideal”. Além disso, esbarramos com os mecanismos estruturais do racismo que silenciam e apagam pessoas negras LGBTs.

Durante essa jornada sobre identidade, é constante a sensação de que pertencemos a vários lugares e, ao mesmo tempo, não somos exatamente vistos como iguais em nenhum deles. Existe um desamparo sobre quem está na lacuna entre negros heterossexuais e gays brancos. Ser minoria das minorias é um pouco solitário.

Demorei anos para entender a beleza da minha cor, do meu nariz largo, do meu cabelo crespo e do quanto é normal se apaixonar pelo mesmo sexo. Não foi fácil tentar montar esse quebra-cabeça identitário e ainda decidir para que curso prestar vestibular. A consciência de quem sou foi amadurecendo junto comigo e, por isso, hoje considero que saí do armário duas vezes: uma quando me entendi gay e outra quando me entendi negro de forma plena.

Se Marty McFly me convidasse para um rolê no tempo, eu daria o seguinte conselho para meu eu adolescente:

Ser gay é um superpoder. Ser gay e negro são dois.

Leia um trecho de Simon vs. a agenda Homo Sapiens

 

Jeff Oliveira tem 28 anos, é carioca, publicitário e roteirista. Quando não está escrevendo sobre TV e cinema (ou postando textões no Facebook), grava vídeos em seu canal no Youtube sobre sexualidade e gênero, questões étnicas e direitos humanos. Jeff acredita que papos carinhosos e identificação são atalhos para entrar em corações e transformar diferenças em superpoderes que vão salvar o planeta.

testeConselhos sentimentais para Lara Jean

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Lara Jean é uma garota apaixonada pelo amor. Sonhadora, seus romances sempre foram idealizados e nunca aconteceram de verdade. Os relacionamentos se passam apenas na sua cabeça e nas cartas secretas que ela escreve para os garotos por quem se interessa. Até que um dia essas cartas, seus bens mais preciosos, vão parar nas mãos dos respectivos destinatários; e é justamente esse episódio do acaso que vai dar a Lara Jean a chance de viver um romance pela primeira vez.

Mas todo mundo que já se apaixonou sabe que na vida real as coisas costumam ser um pouquinho diferentes dos nossos sonhos, e é aí mesmo que mora o problema: encarar um romance de verdade traz muitas coisas boas, mas também nos deixa expostos às nossas fragilidades.

Idealização, paixão, engano, confusão mental, insegurança, ciúme e até algumas lágrimas devem sempre ser levados em conta quando embarcamos numa história de amor. E, embora Lara Jean atravesse todas essas etapas em Para todos os garotos que já amei,  P.S.: Ainda amo você e Agora e para sempre, Lara Jeanuma história de amor não precisa ser angustiante ou desesperadora.

Para aquietar as dúvidas que pulsam no coração dessa doce protagonista, nossa equipe de Ficção Jovem resolveu dar uma ajudinha e imaginou o que alguns de nossos personagens aconselhariam a Lara Jean.

Confira!

testeO Ministério dos Notáveis

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Comecei a ministrar uma oficina de biografias. O curso, que vai durar quatro meses, incluirá uma aula sobre a importância das fontes. Já escrevi três biografias: a primeira foi sobre a imperatriz Leopoldina, que viveu no século XIX; a segunda, sobre o padre Antonio Vieira, nascido em 1608; e a terceira, sobre a família Guinle, uma saga que começa em meados do século XIX e chega aos dias de hoje.

A maior diferença entre esses trabalhos reside na existência ou não de fonte oral, pois, quanto mais antigo é o objeto estudado, naturalmente menores são as chances de se contar com testemunhas dos fatos narrados. E esse é um detalhe que faz uma enorme diferença. Um exemplo: de acordo com as fontes escritas, o padre Antonio Vieira falava português com sotaque baiano. Mas como seria o sotaque baiano no século XVII? Não sabemos, pois não temos um único relato de fonte oral.

Entretanto, nem toda fonte oral é fonte realmente de muitas informações. Para escrever a biografia dos Guinle, entrevistei mais de 60 pessoas. Muitas dessas conversas foram paupérrimas, quase nada acrescentaram. Mesmo assim, cada vez que se vai encontrar uma fonte viva é uma emoção.

Ao longo do meu trabalho para escrever Os Guinle, tive um encontro com o jurista Célio Borja. Nunca morri de amores por ele. Na minha juventude, Borja era deputado pela Arena, partido de sustentação da ditadura militar no Congresso. Mais tarde, sempre no campo direitista, Borja se filiou ao PDS e depois ao PFL.

Minha maior irritação com o jurista ocorreu durante o período de impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992. E eu detestava tudo o que se relacionasse a esse presidente. Collor, ao longo de seu curto mandato, cometeu muitos erros, mas acertou ao montar um ministério com homens sem problemas jurídicos. Célio Borja integrou o chamado Ministério dos Notáveis como ministro da Justiça, ao lado de Marcílio Marques Moreira, na Economia, e de Eliezer Batista, na pasta de Assuntos Estratégicos. Eles não permitiam que o pesado clima político contaminasse a administração do país.

Infelizmente, a conversa foi curta, pois Célio Borja disse não ter como me ajudar. Ainda assim, o pouco que ele me passou sobre a família Guinle eu acabei incluindo no livro. No entanto, nem foi isso que fez com que eu amenizasse minha opinião sobre ele. Hoje percebo que Célio Borja e seus pares comandavam com desenvoltura a gestão do governo. Eles nunca foram motivo de ataque das forças que queriam o “Fora Collor”.

Ao longo do processo de impeachment, o presidente era alvo de duríssimas críticas. Sua defesa rasgada era conduzida por um grupo de partidários chamados de “tropa de choque”: o ex-senador Ney Maranhão, o ex-deputado Roberto Jefferson e o atual presidente do Senado, Renan Calheiros. Já os ministros do governo Collor nunca causaram a ira oposicionista. E esse é um fator louvável.

testeBastidores de Cinquenta tons mais escuros

Os fãs ansiosos pela continuação de Cinquenta tons de cinza nos cinemas já podem comemorar! As primeiras imagens dos bastidores de Cinquenta tons mais escuros foram divulgadas recentemente. As gravações acontecem em Vancouver, no Canadá.

Nesta sequência, os atores Eric Johnson, de Smallville e The Knick, Kim Basinger, de 9 ½ semanas de amor,  Bella Heathcote, de Orgulho e Preconceito e Zumbis, Luke Grimes, de Sniper americano e Brothers and SistersMax Martini e Eloise Mumford se juntam a Jamie Dornan e Dakota Johnson, protagonistas da história.

Cinquenta tons mais escuros estreia em 9 fevereiro de 2017 com roteiro de E L James e do marido, Niall Leonard.

 

Um vídeo publicado por Hugo Gloss (@hugogloss) em

Confira a galeria de fotos:

testeDa desconfiança e do preconceito

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A vida cotidiana no Brasil tem nos obrigado ao eterno exercício da desconfiança — e não estou falando das polêmicas facebookianas e palacinas. Estamos tolhidos na nossa liberdade de ir e vir; vivemos trancafiados em casas com cerca elétrica e prédios com sistema antipânico; nossos carros segurados andam pelas ruas com o vidro fechado. Porém, mais do que tudo isso, estamos trancados em nós mesmos. É preciso desconfiar do outro constantemente, ser discreto e não falar com estranhos.

Dia desses, no entanto, presenciei uma cena triste — e digo triste além da tristeza disso tudo que expus acima. Foi num bom restaurante da cidade, num sábado ensolarado deste verão que resiste em partir. Sentada numa mesa à janela, eu olhava a calçada onde outras mesinhas se multiplicavam: gente colorida, alegre, confraternizando num dia bonito, comendo e bebendo sob os guarda-sóis. Havia duas moças conversando, e uma delas deixara sua bolsa sobre a mesa. Era uma bolsa grande, marrom. Elas riam, falavam. Nisso veio pela calçada um menino de uns oito anos vendendo balas, usando roupas puídas e labutando antes da hora, destino da maioria das crianças brasileiras. Ele ofereceu as balas de mesa em mesa; não sei se chegou a vender alguma. Quando parou em frente à mesa em questão, uma das moças recolheu ostensivamente sua bolsa, enfiando-a num nicho da cadeira. Fez isso tranquila e naturalmente, bem na frente do menino, sem ter ao menos a dignidade de dizer “não, obrigada, não quero balas”. Depois de alguns segundos de puro silêncio, o menino saiu, não sem perceber que, com seu afastamento, a bolsa marrom voltara ao seu lugar sobre a mesa.

Ok, meninos pobres vendendo coisas no meio de um almoço causam constrangimento. A gente sente pena, culpa e raiva do governo. Mas, então, que cada um guarde sua bolsa bem a salvo dos seus preconceitos e medos. Não é justo impingir a uma criança a pecha de provável ladrão, pois foi isso que eu e o menino vimos.

Fui assaltada uma única vez na vida, num sinal de trânsito paulistano. O ladrão, que veio caminhando pelo canteiro da avenida, era um cara bonito e bem-vestido, tanto que destoava dos pedestres que circulavam por ali. Se houve preconceito meu? Pode até ser; o cara não tinha a menor pinta de ladrão. Mas pelo menos fui eu a vítima desse preconceito. Agora, cá entre nós, vamos deixar as crianças fora disso.

testeAs melhores frases de Will

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Quem quer que tenha lido Como eu era antes de você não tem vergonha de assumir: Will conquistou seu coração. Apesar do sarcasmo e do mau humor, o personagem criado por Jojo Moyes tem um jeito encantador e ótimas tiradas.

Para quem ainda não conhece a história, Will é um jovem rico que após sofrer um acidente de moto fica preso a uma cadeira de rodas. Amargurado, ele tem que se acostumar com a nova rotina e para isso conta com a ajuda de Lou, uma garota de 26 anos que foi trabalhar como cuidadora após perder o emprego. Sem saber o quanto cada um mudará a vida do outro, os dois começam a se envolver.

Apaixonada pelo romance, nossa equipe de ficção estrangeira preparou uma lista com as frases mais marcantes de Will. Confira:

Imaginem receber uma carta com essa frase…

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Ou encontrar alguém que goste de você do jeito que você é.

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Pensem em alguém que incentiva a viajar. Tem como não se apaixonar?

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E não deixa você esquecer esse detalhe importante:

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Imaginem ter alguém para dividir os melhores e mais intensos momentos da vida. <3

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E ainda ser humilde e preocupado com os seus sentimentos:

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testeHá abismos entre o amor e o afeto

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Deitados tão próximos quanto humanamente possível, braços e pernas entrelaçados, Júlia e Inácio sabiam que era o fim. A noite caía devagar. O domingo estava quente e o apartamento espartano, quase sem móveis, tão vazio que as vozes ecoavam. Para guardar segredos era preciso sussurrar.

Em silêncio, quase nus, pensavam a mesma coisa: queriam ter dois ou três grandes amores na vida. Ela, porque, do alto dos seus vinte e três anos, tinha certeza de que Inácio era o seu primeiro amor. Ele, porque tinha certeza de que Júlia não tinha sido um deles. Há abismos entre o amor e o afeto.

Júlia sabia que Inácio sentia por ela um afeto especial. Talvez isso fosse suficiente para muita gente, mas, para ela, não. Por mais que o amasse, ao olhar-se no espelho, encarando seus olhos enormes e expressivos, pensava que merecia mais. Já havia deixado muito tempo passar.

O fato de Inácio simplesmente gostar dela era, na verdade, pior. Sentia-se comum. Esperava que isso mudasse, mas nada aconteceu. Em Júlia, ele despertava um sentimento único — e era exatamente o que ela queria dele.

Baby estava longe, a milhares de quilômetros de distância. Mas ali no escuro, com Júlia, era nela que Inácio pensava. Ele desconversava cada vez que alguém mencionava seu grande amor e, por respeito, jamais falou sobre ela para Júlia.

É claro que a namorada percebia que alguma coisa o mantinha distante, mas ele achava inútil, além de cruel, choramingar sobre o passado justamente com quem estava a seu lado. Baby, de alguma forma, também estava por perto. Lembrou-se daquele dia em que foram a Jacarepaguá de Fusca. Janeiro de 1980, tinha dezesseis anos. Recordar tão vividamente uma noite de oito anos antes era patético.

Inácio desejou desesperadamente que o silêncio fosse quebrado, ainda que não quisesse ser o primeiro a dizer qualquer palavra. O telefone poderia tocar se houvesse um aparelho no apartamento. Mas ele não tinha dinheiro para entrar na lista de espera da Telerj. Mal ganhava para pagar o aluguel e comer. Ficou quieto.

Júlia tinha dificuldade para dormir e costumava passar um tempo estudando o rosto de Inácio depois que ele adormecia. A cabeça dele pesava e pendia para o lado. A expressão ficava séria, como se estivesse pensando em algum problema de matemática. Ela sentia um aperto no coração enquanto ele dormia. Todo insone morre de medo de ficar sozinho.

A claridade da rua fazia sombras no rosto dele. Esperou cinco, talvez dez minutos, para tirar o braço preso sob o corpo de Inácio antes de afastar-se. Júlia lembraria aqueles minutos, o movimento da respiração no peito dele; a graciosidade dos poucos pelos no centro dos peitorais. Uma brisa morna vinha de fora. Sinal de chuva. Apressou-se em colocar o vestido branco — lembraria para sempre que era branco. Pensou que sofrer fosse ruim, mas sofrer encharcada seria demais. Tinha dinheiro que dava para pagar um táxi e chorar no colo da mãe.

Júlia reconstituiria inúmeras vezes os detalhes de sua fuga silenciosa: como tocou Inácio e sentiu os contornos de seu rosto com as pontas dos dedos, abriu a porta devagar para não fazer barulho, desceu quatro lances de escada com os tamancos de madeira nas mãos, tentou disfarçar o choro dentro do táxi e ignorou o gracejo do motorista.

Para Inácio, anos depois, o fim com Júlia seria um ponto indefinido. Jamais conseguiria lembrar se tudo teria sido fruto de uma discussão num bar — de fato, haviam se desentendido algumas semanas antes — ou se apenas decidiram ser bons amigos numa conversa amigável, que jamais existiu.

Caso se encontrassem aos quarenta anos, Júlia ficaria abalada mesmo que o tempo tivesse sido impiedoso com Inácio. Ele a encararia de forma generosa — como faz com todos — e provavelmente a acharia bonita, elogiaria suas escolhas profissionais e a família sólida construída. Trataria a ex com o afeto que se guarda por uma velha amiga. E, sem saber, a magoaria outra vez.