Mulheres invisíveis apresenta nova abordagem para leituras feministas 

Todas as conquistas dos seres humanos começaram com a observação do mundo. A coleta de dados dita os rumos da sociedade. Mas ela também esconde um lado perverso: as mulheres nunca foram contempladas por eles. De que forma isso impacta suas vidas na prática? 

Em meados da década de 1990, uma pesquisa realizada por funcionários municipais de Viena concluiu que a frequência de meninas a parques e espaços públicos de lazer “cai significativamente” depois que elas completam dez anos. Mas por quê? 

Em vez de simplesmente dar de ombros e decidir que as meninas precisavam ser mais duronas, eles se perguntaram se não haveria algum problema no projeto dos parques. A partir daí, esboçaram projetos-piloto e passaram a coletar dados. O que encontraram: o problema estava nos espaços grandes e únicos, que obrigavam as meninas a disputá-los com os meninos.

Elas não se sentiam seguras para competir, e, por esse motivo, costumavam deixar o espaço para os meninos. Mas quando os parques foram divididos em áreas menores, a fuga feminina cessou. 

As instalações esportivas dos parques também foram objeto de estudo. Originalmente, esses espaços eram cercados por todos os lados e tinham uma única entrada — ao redor da qual reuniam-se grupos de meninos. E as garotas, que não se dispunham a enfrentar o corredor polonês, apenas não passavam por lá. 

E, da mesma forma que os gramados, as quadras de esportes foram subdivididas. Todas essas modificações foram sutis, mas deram certo.

São mudanças que mostram a importância de se atentar aos dados e entender a nossa sociedade a partir deles, sem premeditar certezas com base na falta de informações — e, inevitavelmente, na desigualdade de gênero. 

Esse é um dos exemplos presente no livro Mulheres invisíveis, que apresenta a tese de que toda a nossa cultura é permeada por uma falta de representatividade de dados sobre a experiência feminina. 

Caroline Criado Perez nos leva a questionar a maneira como a desigualdade de gênero se instaura em nossa sociedade e, mais importante: como podemos enfrentá-la de forma prática.